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"Expressando uma vida digna"

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“Quem não tem pão come bolo”
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Lembro-me de minha infância, onde criado pelos meus avós, tinha de tudo.
A casa era abastada, comida e bebida não faltavam, bons tempos aqueles!
Crescia feliz e tive uma excelente infância, brincava nas árvores, comia amoras, jabuticabas, mangas, tudo farto, casa abençoada graças a Deus!
Mas meus pais viviam de favor numa casa no fundo do quintal, e minha mãe com muita determinação conseguiu financiar um apartamento, onde mudamos, nesta época já tinha 12 anos.
Então, a luta pela independência foi difícil, senti a carência destes dias.
Tinha dias que tinha somente chá mate para tomar, aquele mesmo do Leão.
Com meu pai alcoólatra, vivi a desarmonia de um lar, entre vicissitudes e virtudes, nesta adolescência aprendi a olhar os dois lados da moeda o cara e a coroa.
Minha cara mãe me ensinou fundamentos cristãos, que os trago comigo até hoje, vontade e determinação, temor a Deus foram virtudes que jamais esquecerei!
Por outro lado, meu coroa pai, quando bebia perdia todo senso e atingia-nos com palavras grosseiras, eu, irmão, mãe.
Assimilei muito este lado a revolta estava tomando meu coração, quando não bebia era um amor de pessoa, onde me ensinou muitas coisas...
Percebi que aquilo era uma doença, e sem ela, ele era um homem incrível.
Mas é da carência que desejo falar! Na escassez obtive lições importantes.
A importância de economizar, pois eram raras as vezes que tínhamos mistura dentro da geladeira, mistura frequente era ovos. Até cantava o refrão de uma música da época, invertida a letra onde minha mãe ria muito da situação: "Comer ovo todo dia que agonia..." 
Meu pai afastado pelo INSS por motivo da bebida mesmo, ensinou-me a fazer mágicas na cozinha.
Detestava verduras e legumes, mas eram baratos, pães frescos era difícil viu... Leite nem pensar! Tinha muito pão duro, onde ele me ensinou fazer torradas crocantes.
Cortando fatias finas, passava pouca margarina quando tinha ou substituía com um fio de óleo, salpicava cheiro verde ou orégano e levávamos ao forno para dourar e ficava uma delícia para acompanhar o chá.
Cebolas Bách! Detestava! Tomates, pepinos, cenouras, nem imaginava!
Mas, entre o paladar e necessidade, preferia comer e não é que tudo que comia era tão gostoso!
Ensinou-me fazer arroz e feijão, omeletes com cebolas e tomates, cebolas refogadas no óleo para acompanhar o arroz, fígados acebolados, saladas de pepinos, cenouras raladas, miúdos de galinhas, jamais imaginara o vinagrete ser tão gostoso, e como tudo até hoje com muito prazer!
Na falta de pães, aprendi a fazer bolo de fubá, receita simples que faço até hoje.
Veja só: Um copo americano de fubá + mesmo copo de farinha de trigo + mesmo copo de açúcar + mesmo copo de óleo usado mesmo peneirado no filtro de papel + mesmo copo de leite + 3 ovos, pitada de sal, colher de sopa de fermento em pó. Bater tudo no liquidificador e despejar numa forma untada e enfarinhada e levar ao forno até dourar.
Pronto um bolo fofo de fubá. “Quem não tem pão come bolo”, não tenho saudades da escassez, mas ela bateu em nossa parte e conseguimos nos sair muito bem, tenho saudades da convivência e aprendizado!
Óh meus amados pais! Deus os tenha! Por aqui estou ensinando minhas filhas também, enxergarem um palmo além do nariz... Mas esta será outra crônica. Deus abençoe a todos vocês visitantes!
Maurício de Oliveira
Enviado por Maurício de Oliveira em 22/10/2012
Alterado em 22/10/2012
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